O texto a seguir foi retirado do site Destonillador Sonico e traduzido por meu parceiro Danil BR, e adaptado (com algumas pequenas mudanças) aqui.
"Outro dia, como dita o costume que adquiri ao passar dos meses de Whovianismo, encontrava-me revendo as diferentes e mais notórias páginas da internet de notícias relacionadas à Doctor Who. Depois de ver vários textos, minha vista parou em um que me chamou a atenção. E isso é dizer pouco; na verdade, lê-lo doeu-me muito como fã tanto da série como de seus diferentes formatos no Universo Expandido. Tratava-se de uma entrevista na qual Colin Baker, o ator que interpretou o Doutor entre 1984 e 1986, expressava sua decepção pessoal com o fato de que haja uma percentagem considerável de seguidores da série que, não só o têm estereotipado como “a pior encarnação da história da série”, assim como chegam a não o reconhecer até o ponto de sua fase cair no esquecimento.
Acredito que seria uma informação bastante precisa dizer que alguém que se informe sobre a série quando tenha intenção de começá-la descobriria que, por clamor popular, Tom Baker e David Tennant (4º e 10º Doutores, respectivamente) são os dois melhores atores que já interpretaram o renegado Senhor do Tempo. Com um pouco mais de investigação descobrirão o outro lado da moeda, ou seja, o Doutor menos querido pelo público em geral: Colin Baker. Desse modo, fecha-se o círculo vicioso de propagação “boca a boca” de ideias entre fãs da série, que desgastaram a imagem dessas encarnações (além do predomínio da Série Atual sobre a Série Clássica).
A primeira impressão enraizada muito fundo na comunidade de fãs é péssima quando se passa de uma das melhores histórias da era clássica, As Cavernas de Androzani (arco 135, final do 5° Doutor), para o considerado como pior arco em 55 anos de série, O Dilema dos Gêmeos (arco 136, primeiro arco do 6° Doutor), onde uma das primeiras cenas do novo Doutor é vê-lo estrangulando a sua companheira. E já soa repetitivo falar de seu peculiar casaco, que, por mais mérito que tenha para servir de cosplay para os fãs, é a definição pura e dura da expressão "over the top". O próprio Colin disse em diversos painéis de eventos ao longo de sua vida:
“Eu tinha a ideia de que o Doutor era uma pessoa que gosta de passar despercebido, então pedi mais ou menos exatamente a roupa que Christopher Eccleston usou em 2005; e, em lugar disso, o que me deram? Uma explosão na fábrica de arco-íris! ”
"A má qualidade dos roteiros se consolidou durante a 22ª temporada com episódios de um nível que oscilava entre ruim e decente, sendo Vingança em Varos e Revelação dos Daleks as exceções que confirmam a regra. Acredito que nunca na história da série se equivocaram ao escolher o ator que interpretaria o Doutor, e, apesar desse fator criativo, Colin conseguia extrair ouro de tudo aquilo que lhe davam. De fato, cada vez que vejo essa atitude fria e sarcástica que o ator dava ao personagem, noto profundas semelhanças com o 12° Doutor de Peter Capaldi, com um pouquinho da insolência de Tom Baker (4°) e um toque da teimosia de William Hartnell (1°). O problema é que um Doutor antipático ainda não cabia naquela época.
O hiato de mais de 18 meses até a estreia da 23ª temporada se destacou por amplas discussões sobre o futuro da série, e duros problemas de produção são refletidos no segundo fator que o marcou. Digamos que a BBC começou em meados da década de 1980, com o canal dirigido por Jonathan Powell e Michael Grade, que plantaram as sementes para a série EastEnders. Essas eram pessoas que manifestaram em diversas ocasiões de maneira mais ou menos direta que não gostavam nada de ficção científica e se queixaram dos pobres valores de produção alcançados e dados ruins de audiência em Doctor Who aos finais da década de 1980, depois de cortar seu orçamento à metade. Quem não acredita em mim ou quer comprovar por si só que busque no YouTube “Michael Grade – Doctor Who.avi”, onde se observa em 5 minutos à perfeição de sua atitude de menosprezar o gênero e a série. Apesar de eu considerar
O Julgamento de um Senhor do Tempo (arco 143, que pega toda a temporada 23) como um dos arcos mais desvalorizados do cânone pelos temas que trata (corrupção em Gallifrey, o obscurantismo e manipulações da Celestial Intervention Agency e a introdução do personagem Valeyard), posso entender a má fama que possui por ser um retrato do que estava ocorrendo nos bastidores: a série estava sendo julgada com uma lupa. Já que toda a produção já feita para a temporada 23 foi cortada para que a BBC tivesse outro projeto. Há um mini documentário que foi adicionado como um extra do DVD de O Julgamento de Um Senhor do Tempo que explica melhor a situação e o que ouve, veja abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=dRMNJRN6Lqg&t=64s
Colin Baker é uma pessoa que passou por problemas tanto relacionados ao trabalho (sendo o único ator protagonista que foi despedido do papel) como ao pessoal em diferentes momentos de sua vida; mas cujo carinho pela série deve ser apreciado e respeitado sobretudo: na verdade, sua intenção era permanecer nela até igualar ao recorde de Tom Baker; nem mais nem menos que 7 anos. Atualmente, graças à plataforma que a Big Finish proporcionou ao ator para interpretar o seu Doutor continuamente em áudio dramas, foi dado a ele a oportunidade de lavar a imagem que as pessoas têm de seu personagem (coisa que nunca se cansa de repetir) graças a uma ampla seleção de novos roteiristas e escritores de grande talento, que lhe proporcionaram novas e mais ambiciosas aventuras e companheiros.
Como Sylvester McCoy (talvez em maior medida), Colin foi vítima de estar no pior momento da série; por isso, atribuir a ele 100% da culpa do fracasso da série em meados da década de 1980 e seu posterior cancelamento é um argumento muito pouco fundamentado. Atrevo-me a dizer que talvez seja o ator que, dos 12 Doutores (até então), preocupou-se e esforçou-se em ter um lugar na história da série sem medo de ser rotulado de forma simplista; já que, como todos nós, é um fã demais... não como outros (cof, cof, Eccleston, cof, cof). E concluo esta coluna com um desses hashtags, tão populares hoje em dia:
#NãoPuleOSexto.
Além de todos os problemas dos bastidores, talvez o maior deles para alguns seja que Michael Grade, o diretor da BBC na época, estava "morando junto" (se é que vocês me entendem) com a recente ex-mulher de Colin Baker.
Na década de 1980 ocorre o declínio de dois ícones da cultura britânica: James Bond e Doctor Who, dentro desse declínio culpa-se os atores que interpretaram esse papel naquele momento. Nessa tormenta aparece Colin Baker, uma tentativa de dar um novo ar à série, mas a sensação que tenho é como quando em uma embarcação uns remadores remam em uma direção e outros em outra.
Eu perguntaria aos que odeiam o Sexto Doutor se eles sentaram para vê-lo ou se ouviram seus áudio dramas, mais de 70% seguramente não viram nem um só arco, nem escutaram um só áudio drama. Deem-lhe uma oportunidade, não foi ele o culpado de que Doctor Who parou de ser transmitido, suas histórias são boas, Vegeance on Varos poderia tranquilamente competir com Blade Runer por sua qualidade, provavelmente há alguma história intragável, mas isso acontece com todos os Doutores e só ocorre que foi um Doutor errado em seu momento, talvez na atualidade falaríamos de um dos melhores Doutores, basta ver que o Doutor de Capaldi é um clone dele mesmo, como disse o próprio Baker, tem muitas características em comum, salvo que Capaldi possui um vestuário melhor, uma melhor equipe de produção e o público é o correto para aceitar um Doutor desse tipo.
Os roteiros da era Colin Baker realmente oscilam entre ruim e decente, com a exceção do melhor de todos, Vingança em Varos, e o pior de todos, Revelação dos Daleks.
Colin Baker é um daqueles atores que amam a série e seu personagem, e é um verdadeiro fã de tal. O amor que ele tem pelo Doutor e a TARDIS o fez como uma das melhores interpretações do Doutor até hoje, pois mesmo com roteiros ruins e as vezes horríveis, ele conseguia extrair ouro daquilo com sua atuação e dedicação, como faz até hoje nos áudios.
O que devemos tirar disso tudo é: não pule o 6 Doutor, não o julgue por sua roupa e o aceite igualmente como todos os outros.
Adaptação: Lucas Harkness